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Ex-ministro da Defesa de Bolsonaro pede desculpas por falas contra urnas

Ândrea Malcher

Do UOL, em Brasília, e colaboração para o UOL, em Brasília

10/06/2025 17h26Atualizada em 10/06/2025 18h20

O ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) negou qualquer ação de tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder e pediu desculpas pelas falas contra as urnas eletrônicas.

O que aconteceu

General da reserva, ele disse que "não via efetividade" na comissão eleitoral que investigou possíveis fraudes nas urnas eletrônicas. Ele foi o coordenador do grupo em 2022. Não foi encontrado nenhum indício de fraude, mas ele foi pressionado a colocar "possibilidade" de haver eventuais fraudes no relatório final.

Bolsonaro negou que tenha pressionado o militar. Em seu depoimento, o ex-presidente disse que sempre ouviu os comandantes militares, incluindo o ex-ministro, e afastou qualquer possibilidade de interferência. Nogueira também negou ter "despachado o relatório com Bolsonaro" ou alterado qualquer parte a pedido dele. "Isso me deixa de cabeça quente", disse, sobre a denúncia.

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Relatório só saiu após o segundo turno. O então ministro explicou que a equipe foi responsável pela fiscalização do sistema eleitoral. "Eu gostaria de ter entregue, porque prometi ao senhor, mas não entreguei", diz. Ele apresentou alguns motivos, como publicar "fragmentos de informação pode resultar-se inconsistente com as conclusões finais do relatório", citando um dos responsáveis pela comissão.

Reunião foi sobre GLO. Paulo Sérgio Nogueira justificou que ele e os comandantes das Forças Armadas falaram em encontro em 7 de dezembro sobre a possível necessidade de uma garantia da lei e da ordem, constitucional intervenção militar para manter a ordem pública, devido a manifestações que poderiam se tornar violentas. Mas ele disse que viu nesse dia a projeção em um telão com os "considerandos" do que ficou conhecido como minuta do golpe.

"Cid entrava em qualquer reunião", disse o ex-ministro sobre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. "Ele entrava e tinha um papelzinho para entregar, qualquer coisa. Ele tinha carta branca, e a gente entendia isso."

Ele chamou os acampamentos em frente aos quartéis de "manifestação ordeira e pacífica". "Mas o motivo pelo qual eles estavam ali não era legal", opinou. "Foi uma baderna, mas jamais tentativa de golpe de Estado."

Ex-ministro negou papel de hacker em investigação sobre fraudes. Ele disse que Walter Delgatti Neto, enviado por Bolsonaro para "ver se tinha algo a acrescentar" com o trabalho da comissão, ficou por 15 minutos no Ministério da Defesa.

Depois de 47 anos de Exército, coincide com essa reunião em que eu trato com palavras não adequadas, completamente inadequadas, o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral. Foram palavras mal colocadas. Dar a entender de chamar o TSE de inimigo, isso jamais, em tempo algum. A assunção de Vossa Excelência melhorou a minha vida.

Nunca peguei em minuta de golpe. Nunca tratei de minuta de golpe com meus três comandantes.
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa

Bolsonaro ficou "pesaroso, depressivo e doente". Paulo Sérgio Nogueira afirmou que, após o segundo turno das eleições de 2022, Jair Bolsonaro teria ficado deprimido e doente. O ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, teria comentado que o ex-presidente se animava quando os comandantes das Forças Armadas iam ao Palácio da Alvorada.

Segundo ele, os 15 dias após o segundo turno foi como um "velório". "Eu me preocupei com a saúde do presidente. Eu ia para lá [Alvorada], o Cid dizia para a gente: 'o presidente está ruim, quando vocês vêm para cá ele se sente bem'. Eu tratei com os três comandantes e falei o seguinte: 'vocês três façam uma escalinha, para quando um vai, quando o outro vai para poder conversar com o presidente e ele melhorar o visual dele. E isso aconteceu", comentou.

General já havia ficado calado em depoimento à PF. Em fevereiro, ele também não respondeu aos questionamentos da Polícia Federal.

Como foram os outros depoimentos

Jair Bolsonaro, ex-presidente

Ele negou qualquer tentativa de golpe de Estado. Justificou suas críticas ao sistema eleitoral e ao Judiciário como "retórica" e pediu desculpas. Ainda conseguiu fazer piada e rir com o ministro Alexandre de Moraes.

Mauro Cid, delator

O tenente-coronel confirmou tentativa de golpe, mas negou participação. Ele disse que "presenciou grande parte dos fatos", mas não tomou nenhum atitude golpista.

Ainda acusou Bolsonaro de ter "recebido e lido" a minuta do golpe. O tenente-coronel disse que ele fez alterações no documento e "deu uma enxugada" para retirar a parte que pedia a prisão de autoridades, deixando somente Moraes.

Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin

Deputado itiu que não há provas de fraudes nas urnas. Ele argumentou que fazia anotações "privadas" sobre alguns assuntos para organizar suas ideias, mas não enviava ao então presidente Bolsonaro.

Moraes questionou se Ramagem havia usado a agência para monitorar ministros do STF. "Nunca utilizei monitoramento algum pela Abin de qualquer autoridade", respondeu.

Almir Garnier, ex-comandante da Marinha

Sem minuta. Disse não ter visto documento sobre ruptura institucional e negou ter colocado tropas à disposição de Jair Bolsonaro.

Confirmou reunião com Bolsonaro. Ele itiu um encontro no dia 7 e 14 de dezembro — este último, segundo ele, com os comandantes das Forças se encerrou rapidamente. Mas "não houve apresentação de documento durante a reunião".

General Augusto Heleno, ex-chefe do GSI

Ele usou o direito de permanecer em silêncio e não respondeu às perguntas de Alexandre de Moraes, só as de seu advogado. Foi o primeiro a ficar calado.

O general negou saber sobre plano em que se planejava um gabinete após a ruptura institucional. Ele ficaria a cargo desse comando. Também descartou qualquer tentativa de sair das quatro linhas da Constituição, que ele chamou de "lema do governo Bolsonaro".

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF

Disse que houve "falha grave na aplicação de protocolo em 8/1". Ele estava em viagem na Disney naquela ocasião. "Viajei adotando todas as providências que o secretário de Segurança Pública tem que tomar" e "nada indicava invasão de manifestantes dos acampamentos".

Ele chamou a minuta do golpe encontrada em sua casa de "minuta do Google". Negou ser o autor do documento. Disse ainda que havia erros de português e que ela estava em sua casa para ser descartada.

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